No último século, a humanidade expandiu seus horizontes numa escala que nossos ancestrais jamais poderiam imaginar. A vontade de saber, munida da tecnologia, revelou-se irrefreável. A humanidade enviou naves ao espaço e aprendeu como extrair energia das mais ínfimas partículas.
A humanidade também voltou-se para si mesma – e buscou respostas para muitas de suas questões principais. No início do século, Sigmund Freud descobriu o inconsciente. Em 1938, um químico suíço, o funcionário da Sandoz Albert Hofmann, sintetizou o psicodélico LSD-25 proveniente do alcalóide extraído de um cogumelo. Em 1953, o escritor britânico Aldous Huxley tomou quatro décimos de um grama de mescalina, um alucinógeno derivado do cacto, sob a supervisão do psiquiatra Humphry Osmond.
Um ano depois, Huxley escreveu um artigo sobre sua experiência, intitulado “The Doors of Perception”. E três anos depois, Osmond cunhou o termo psicodélico para descrever a mística e religiosa experiência de alteração da consciência induzida pela ingestão de substâncias psicoativas. “O termo psicodélico (…) pode ser traduzido como ‘manifestação da mente’ ou ‘expansão da mente’, segundo o escrito de Hofmann em seu livro: LSD: My Problem Child.
Assim começou a era da psiquiatria psicodélica. Osmond passou a tratar o alcoolismo com LSD. Ronald Sandison, psiquiatra britânico, combinou administrar doses de LSD com terapia, música e criatividade. Em 1955, ele inaugurou a primeira clínica no mundo em que o LSD tornou-se o principal fármaco. Em 1963, o Centro de Pesquisa Psiquiátrica de (Maryland Psychiatric Research Center) lançou o Spring Grove, um dos experimentos mais credenciados em terapia psicodélica, na qual o psiquiatra tcheco Stanislav Grof deu LSD a pacientes com câncer para ajudá-los a aceitar suas mortes. O ácido foi prescrito para tratar esquizofrenia, sociopatia e neuroses, e fornecido a militares. Esta pesquisa científica não foi divulgada pela imprensa, e o público em geral só teve conhecimento da nova droga após astros e estrelas famosas de Hollywood terem passado a se tratar com ácido para depressão.
O LSD foi desenvolvido para converter-se em inigualável revelação na psiquiatria. Durante aquele período foram produzidas milhares de publicações científicas e 6 conferências sobre psicodélicos, e desde 1962, o órgão administrativo estadunidense que regula alimentos e drogas, o FDA – Food and Drug Administration impôs restrições nas pesquisas que usavam LSD. O ácido espalhou-se logo pelas ruas, tornando-se um dos principais símbolos da contracultura hippie. Em 1971, o presidente Richard Nixon declarou guerra às drogas e assinou o Ato de Controle de Substâncias.
A lei afirma que psicodélicos não têm “uso medicinal declarado” e, portanto, devem ser classificados como a categoria mais regulada das substâncias controladas. Como consequência, o seu uso tanto nos laboratórios quanto na experiência clínica foi de fato banido, criando-se uma armadilha: essas drogas tornam-se proibidas porque seu uso medicinal não foi permitido, e nem sequer era possível aos pesquisadores estudarem o seu potencial terapêutico, pelo fato de estarem proibidas. Três acordos da ONU estenderam essas restrições para grande parte do resto do mundo. Após mais de meio século proibidos, os psicodélicos estão retornando ao mercado ao longo do mesmo caminho percorrido pela maconha há vinte anos atrás.
“Após mais de meio século proibidos, os psicodélicos estão retornando ao mercado ao longo do mesmo caminho percorrido pela maconha há vinte anos atrás.”
No entanto, hoje, após meio século de proibição, os psicodélicos estão retornando ao mercado ao longo da mesma estrada que a maconha percorreu há vinte anos atrás. Entretanto, diferentemente da maconha, os psicodélicos representam uma gama de ofertas, com diferentes efeitos e um enorme potencial de mudança. Sob o controle e entusiasmo de típicos tecnocratas do Vale do Silício, os psicodélicos vão transformar o capitalismo dentro de seus próprios preceitos– permitindo ao capital invadir um outro nível da realidade.
A renascença
A política de guerra às drogas de Nixon foi conduzida com a pior das intenções, dirigindo-se diretamente a pessoas negras e à esquerda. Como o seu ex- assessor de política nacional, John Ehrlichman, esclareceu em 1994:
“A campanha de Nixon, em 1968, e a Casa Branca neste governo tinham dois inimigos: a esquerda anti-guerra e as pessoas negras. Vocês entenderam ao que estou a referir-me?
Nós sabíamos que não podíamos tornar ilegal o movimento negro, nem tampouco reprimir posicionamentos contra a guerra, porém podíamos enfatizar a associação dos hippies com a maconha e dos negros com a heroína, e a seguir, criminalizando intensamente ambas as substâncias, tornou-se possível desarticular estas comunidades. Foi possível prender seus líderes, invadir suas casas, interromper suas reuniões e difamá-los reiteradamente no noticiário da tarde.
Nós sabíamos que estávamos mentindo no que diz respeito às drogas? Claro que sim.”
Essa chamada guerra teve “consequências devastadoras para indivíduos e sociedades ao redor do mundo”, relatou a Comissão Global de Política de Drogas (Global Commission on Drug Policy), em 2011. Nos anos 2000, a demonização e a proibição da maconha por tanto tempo deu lugar a uma expressiva descriminalização. O capital privado tomou espaço dentro do campo liberado de oportunidades e configurou um mercado legal para muitas start-ups, nas quais empreendedores capitalistas, celebridades, grandes instituições financeiras, e a maioria dos comuns investidores, desejosos de arriscar algum dinheiro, começaram a investir. Foi um período de afluência, financeirização e monstruoso crescimento deste mercado, em que se tentava a cura de quase tudo com a maconha, desde câncer a coronavírus.
Nos Estados Unidos da América, a maconha finalmente tem se tornado parte da vida cotidiana, bem como converteu-se num negócio como outro qualquer. Em 2021 a maconha foi vendida legalmente no país movimentando, sozinha, um recorde de 17,5 bilhões de dólares (a ilegal movimentou mais de 100 bilhões de dólares), já que as pessoas começaram a fumar durante os períodos de confinamento. A Associação Nacional da Indústria Cannabis (National Cannabis Industry Association) espera um crescimento do mercado na ordem de 41 bilhões até 2026, comparável ao mercado de cerveja artesanal dos EUA. Os agricultores americanos agora têm as maiores culturas de cannabis, com a cannabis deslocando até mesmo as culturas tradicionais em alguns estados, como o Maine.
O termo “nova revolução psicodélica” ou “renascença psicodélica” foi escolhido para descrever este processo em torno dos psicodélicos.
Logo no início dos anos 2000, cientistas já consideraram o retorno dos psicodélicos à ciência. Isto vinha de uma flexibilização da postura da FDA que, progressivamente, emitia aprovações pontuais para experiências que utilizam substâncias psicoativas. Então, no início dos anos 90, Rick Strassman, pesquisador de psicofarmacologia, inesperadamente recebe uma permissão, embora limitada, para pesquisar o alucinógeno DMT. Paralelamente, pesquisas particulares, que conseguiram ultrapassar meandros burocráticos, comprovaram a segurança dos estudos em humanos. Em 2013, o livro “The Psychedelic Renaissance”, do britânico Dr. Ben Sessa, foi publicado tendo como questão central “Os psicodélicos podem fazer pela psiquiatria o que o microscópio fez pela biologia e o telescópio pela astronomia?”. Em 2014, cientistas passaram a pleitear a completa supressão da proibição das pesquisas referentes às substâncias psicoativas. Então, em 2021, o primeiro financiamento estatal foi concedido para estudar a eficácia da psilocibina no tratamento da dependência do tabaco.
“Baixo? fins medicinais, os psicodélicos vêm sendo prescritos amplamente para quase tudo, desde TDAH (transtorno de déficit de atenção) e hiperatividade, até Alzheimer e alcoolismo.”
Os rumores sobre o surgimento de um novo produto tem deixado o mercado atento. De acordo com o Business Insider, Peter Thiel, criador do PayPal, e Micheael Novogratz, investidor de criptomoedas, investiram algo como 139.8 milhões de dólares em psicodélicos ao longo destes anos. Em meados de outubro de 2021, um infográfico belamente ilustrado foi lançado para os investidores, mostrando o atual estado do mercado, de forma clara. Neste sentido, indica a revista Fortune:
“Outrora considerado como um investimento arriscado, agora a “indústria cannabis” vem se estabelecendo, por conta própria, como uma das oportunidades de investimento de rápido crescimento no planeta. O setor, já neste ano, vem superando amplamente o mercado.
E pela primeira vez, estamos a observar uma trajetória de emergência similar para a indústria dos psicodélicos. O capital inteligente está se movendo para aproveitar a oportunidade de investir na próxima fronteira.
Apesar de ser uma indústria em fase inicial, as expectativas do potencial dos psicodélicos seguem crescendo, com uma projeção de mercado que alcança 10.75 bilhões de dólares em 2027.”
Uma agência de pesquisa de mercado vai mais além, aumentando esse número para 69,7 bilhões de dólares.
De fato, os psicodélicos representam uma capacidade de mercado muito maior do que a maconha, já que eles representam uma classe inteira de diferentes substâncias e não só uma única planta enteogênica. O relatório de março de 2021 do FDA segmenta o mercado psicodélico por substâncias: o LSD alucinógeno e a psilocibina (cogumelos), ibogaína (extrato de raiz da iboga), o MDMA empático (parte do êxtase), os dissociativos cetamina e DMT. E em muitos deles, também está previsto o uso medicinal, para muitos casos, desde TDAH a Alzheimer e alcoolismo.
Os quatro cavaleiros do mercado
A depressão também oferece uma oportunidade única de lucro para empresas do mercado psicodélico. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a depressão afeta 3.8% da humanidade, e as duas doenças mentais mais comuns, depressão e ansiedade, causam um impacto de 1 trilhão de dólares na economia mundial. O mercado de antidepressivos movimenta sozinho 15.6 bilhões de dólares. Ainda assim, muitos dos remédios já existentes no mercado atuam quase como placebos ou sequer funcionam.
O mesmo relatório identifica quatro companhias centrais neste mercado: Numinus Wellness (com uma capitalização de mercado de 144 milhões de dólares), Mind Medicine Inc.ou MindMed (1.3 bilhões de dólares), COMPASS Pathways (1.4 bilhões de dólares) e Johnson & Johnson (428 bilhões de dólares). Duas destas companhias estão instaladas no Canadá, já que as políticas de regulação sobre a pesquisa de psicodélicos são muito mais permissivas lá.
Numinus Wellness é uma empresa canadense fundada em 1964, e vem a ser a mais antiga do mercado psicadélico. Seu nome vem de “numinoso”, um termo que designa a intensa experiência religiosa de uma presença divina misteriosa e aterrorizante. Numinus é a única empresa parceira da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (MAPS).
Mind Medicine é uma firma canadense fundada em 2019 pelo empresário Jamon A. Rahn, que idealizou a microdosagem no Vale do Silício. A MindMed tornou-se pública em outubro de 2020, passando a ser a primeira empresa pública entre os concorrentes neste mercado. A MindMed está desenvolvendo um medicamento para dependência de opioides com base em uma molécula de 18-MC derivada da ibogaína, bem como uma técnica para tratar a ansiedade com microdosagem de LSD, e recebeu aprovação para testar MDMA e DMT.
COMPASS Pathways é uma companhia britânica fundada em 2016 pela física russa Ekaterina Malievskaya e seu marido.O filho deles desenvolveu Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e depressão. O uso de antidepressivos não ajudou, então Malievskaya se interessou pela psilocibina. A COMPASS patenteou uma fórmula para o psilocybin sintético, COMP360, nas tabuletas ? e em uma maneira de conduzir uma sessão da terapia do psilocybin para tratar a depressão.
“A depressão também oferece uma oportunidade única de lucro para empresas do mercado psicodélico.”
Enfim, há a própria companhia estadunidense Johnson & Johnson, fundada em 1886. Este gigante na indústria farmacêutica marcou sua presença no mercado psicodélico de uma forma original: em 2019, a J&J lançou a Spravato (Ketanest), um spray nasal que conta com a Cetamina isômero e ketamina como princípio-ativo central. Espera-se que esse spray nasal ajude questões relacionadas à depressão e pensamentos suicidas. Seu preço pela compra online é de $960 para três tubos de 28 miligramas.
Esse spray entretanto é excepcional. Há mais de cinquenta empresas operando no mercado psicodélico. Dois terços delas são públicas, mas nunca trouxeram um produto tão completo para o mercado, devido principalmente ao obstáculo que representam as exigências regulatórias. A substância que está mais próxima de obter vitórias é o ecstasy, MDMA, que agora está pendente da terceira e última fase de julgamentos clínicos. Na hipótese de um desfecho positivo, o Ocidente terá uma nova cura para o estresse pós- traumático. O interesse comercial por substâncias psicoativas não é apenas outro aleatório capricho do mercado. Pelo contrário, isso está profundamente enraizado na história e nas próprias origens do capital.
As especiarias devem fluir
“No coração do sistema de mercado mundial está o comércio de armas, escravos e drogas”, assim argumenta o antropólogo David Graeber. Em seu livro “Débito: Os Primeiros 5.000 Anos (Debt: The First 5,000 Years)”, ele afirma:
“O termo drogas refere-se principalmente a drogas leves, é claro, como café, chá, e açúcar para adoçá-los, e o tabaco, embora o licor destilado apareça pela primeira vez também neste estágio da história humana; e é de conhecimento geral que os europeus não tinham nenhum problema com a agressiva comercialização de ópio na China como forma de, finalmente pôr fim à necessidade de exportar barras de ouro.”
Nesse sentido, a criação de um mercado legal para os psicodélicos é a realização de uma necessidade nuclear do capital, que historicamente gravita na direção desse tipo de mercadoria. Tal como as especiarias, as drogas são transportadas e embaladas convenientemente, e, considerando o baixo custo de produção, tanto o tamanho do mercado quanto a sua lucratividade são gigantescos.
O retorno dos psicodélicos ao mercado legal no início do século XX pode ser facilmente explicado através do mecanismo de “recuperação”, já evidenciado pelo situacionismo nos anos 60: o capitalismo se apropria das ideias de protesto e as transforma em commodities. Além disso, se os hippies usaram o LSD para revoltar-se contra o sistema, agora os trabalhadores são induzidos ao consumo de pequenas doses para trabalhar melhor para o sistema – para criar e executar, para consumir um produto que permite que você se torne um empresário e mude para a classe de pessoas de sucesso. Como Steve Jobs, que tomou ácido na década de 1970, depois fundou a Apple, e hoje ostenta uma capitalização de mercado de 2,47 trilhões de dólares.
“Tal como as especiarias, as drogas são transportadas e embaladas convenientemente, e, considerando o baixo custo de produção, tanto o tamanho do mercado quanto a sua lucratividade são gigantescos.”
Atualmente, os moradores do Vale do Silício tomam drogas no festival Burning Man , em busca de inspiração, bebem ayahuasca na floresta e ouvem o podcast do Joe Rogan, o mais famoso do mundo, sobre psicodélicos. E foi na casa de Rogan que o homem mais rico do mundo, Elon Musk, fumou um baseado e onde Mike Tyson ficou sob “chapado”, sob efeitos do Psilocybe. Esta tendência chegou até na Rússia, na forma de cogumelo, e a estrela de TV Victoria Bonya falou em seu Instagram sobre sua experiência usando o DM.
Onde estão os novos titãs, capitães da indústria, visionários ousados que, como novos Atlas, conduzem a humanidade? Obviamente, os psiquiatras não irão saciar sozinhos o mercado em geral.
David T. Courtwright, historiador e especialista global em política de drogas, concebeu o conceito de capitalismo de limbo, em seu livro The Age of Addiction: How Bad Habits Became Big Business, (2019). O atual milênio é a época em que as indústrias globais incentivam o sobreconsumo e criam vícios. Segundo o autor comentou na Vox:
“O capitalismo de limbo é apenas um conceito abreviado do mecanismo das indústrias globais que basicamente incentivam o consumo excessivo e até mesmo o vício. Na verdade, poder-se-ia ir mais além, e afirmar que não só encorajam, mas agora chegam ao ponto em que, propriamente, projetam o vício.”
A área límbica do cérebro lida com prazer, motivação, memória de longo prazo e outras funções cruciais para a sobrevivência.
“Você não poderia viver sem seu sistema límbico e não poderia se reproduzir sem ele, e é por isso que ele evoluiu. E, no entanto, esse mesmo sistema agora é suscetível a ser sequestrado por interesses corporativos de uma forma que, na realidade, opera contra qualquer perspectiva de sobrevivência a longo prazo”, ressaltou Courtright.
A lógica de mercado
Os imbróglios acerca da exploração de psicodélicos pelo mundo das empresas são tão expressivos que Rick Doblin, o fundador e diretor da MAPS- a mais conhecida companhia na área de pesquisas de substâncias psicoativas – teve, ele próprio, que defender publicamente o COMPASS Pathways e os interesses das próprias empresas. Como ele expos:
“Outra preocupação relativa ao desenvolvimento desse campo e sua possibilidade de lucro é uma espécie de crítica do capitalismo, em que tudo diz respeito à maximização do lucro, desconsiderando as necessidades do ser humano – a máxima é fazer dinheiro. Eu penso que não é por aí. Por tudo que eu sei sobre a Compass e sobre o que eles estão se propondo a fazer, acredito que possam coexistir ambas motivações, a financeira e a humanitária…Logo, penso que estamos numa situação fantástica. Eu acho que todos nós temos que dar uns aos outros o benefício da dúvida e apenas acompanhar o que as pessoas estão fazendo e ver o que acontece.”
Pareceria, portanto, que foram apenas “empresários malvados”, aqueles que negociaram escravos, armas e drogas, ao invés de uma lógica regular de mercado que os levou a agir assim… Existem bons empresários, que inventaram smartphones e lançaram naves espaciais, certo? Como então nos assegurarmos de que a indústria psicodélica será administrada por bons empresários e não por maus? Rick Doblin tem certa razão em contra argumentar com esta posição, porém a MAPS, fundada em 1986, existe apenas pelas doações de empresas, e se ele mesmo passa a tecer considerações sobre a ética das empresas psicodélicas, pode-se facilmente imaginar o que aconteceria ao investir em sua organização.
Mas, vamos imaginar, segundo Doblin, o que poderia acontecer se empresários “malvados”, subitamente tomarem o comando da revolução psicodélica – lembrando que não existe nenhum crime que o capital não possa cometer em prol de lucros de 300 por cento.
Com o surgimento de um mercado legal de psicodélicos, o capital vai invadir a consciência humana em profundidades inimagináveis até para os gênios mais mal- intencionados do Facebook, buscando vincular a produção de dopamina no cérebro do consumidor ao número de “notificações por impulso”. A proximidade da indústria psicodélica dos gigantes da tecnologia do Vale do Silício – e o influxo de capital a partir daí – tornaria essa penetração tão rápida que a próxima década entraria para sempre na história como os “anos 20 psicodélicos”.
Os psicodélicos redescobrirão a própria essência do capital como valor auto crescente. A ideia infernal de crescimento infinito transcenderá até mesmo os limites da realidade material, colonizando o espaço do mais além dos parâmetros de percepção. Já em 2016, o programa DMTx foi lançado, treinando grupos de “psiconautas” voluntários para mapear o hiperespaço e encontrar seus habitantes alienígenas inteligentes, entidades extraterrestres, espíritos ou elfos –máquinas. Essa é uma pesquisa científica real que está sendo conduzida atualmente.
Por milhares de anos, os psicodélicos preencheram a lacuna entre o dedo de Adão e o dedo do deus criador no afresco de Michelangelo. O capitalismo psicodélico transformará o dedo do primeiro homem no indicador de Midas – com um final já bem conhecido.
Sobre os autores
é um jornalista russo antifascista.